
A Ecosofia, aproximação de atitudes ecológicas do pensamento filosófico, sublinha a relação entre o ser humano e a natureza, nos convidando a um entendimento profundo dos fenômenos da vida. Os esforços destinados a moldar o mundo natural de acordo com a conveniência da ambição humana tornaram o homem um predador cruel. E nosso planeta pede socorro, sendo a Amazônia um triste exemplo.
A “Carta da Terra”, um emblemático documento assumido pela Unesco, adverte sobre nossa inconsequência, porém, não fala o idioma dos negócios. O modelo de gestão dos anos 1990, conhecido como Triple Bottom Line (TBL) – Tripés Econômico, Ambiental e Social, concebido pelo inglês John Elkington, foi uma importante referência acerca do desenvolvimento sustentável. Os mercados passariam a exigir relatórios de práticas socioambientais como vantagens competitivas, o que mergulhou as empresas nos padrões derivados do TBL.
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Apesar das ocorrências de ‘greenwashing’ e ‘bluewashing’ (propagandas enganosas ‘ambientais’ e ‘sociais’), que puseram muitas empresas na mira da lei, o mundo corporativo acabou “convencido” a fazer o certo. Os relatórios gerados também eram uma forma de se legitimar a acumulação capitalista, sendo que ideias como a ecoeficiência (recirculação de água, aproveitamento de resíduos, energias limpas, etc) trouxeram redução de custos. Enfim, a sustentabilidade era um bom negócio.
De olho na contabilidade, o TBL tornou-se a bússola das gestões. Mas, a complexidade das cadeias produtivas, a própria diversificação dos negócios e a expansão dos mercados – decorrentes da globalização – adicionariam complicadores à administração. E sendo o TBL um paradigma de tripés (estáticos) a sustentarem lucro, centrando o foco no mundo empresarial, não oferecia à consciência gestora visões para além dos muros corporativos.
Lá fora pulsava a vida e um tecido social (conjunto de instituições e pessoas) do qual qualquer unidade de negócio depende para se instalar, operar e prosperar. Além de legislações, riscos reputacionais, interesses e de um emaranhado de relações e representações, com a sociedade civil organizada, as instituições públicas, a política (partidária), o Terceiro Setor (Ongs & cia) e a mídia trazendo novas demandas às empresas. E, para funcionar a contento, um negócio precisaria, adicionalmente, conhecer a cultura da região, com suas tradições, crenças, identidade e referências em geral para melhor integrar-se.
No TBL também não se expunha a importância do sujeito – individualmente – como um elo corporativo, para o bem (ou mal) das organizações. O potencial inovador humano passava batido no tripé social (coletivo de pessoas), sem maior ênfase no bem-estar do indivíduo em si, o que lhe permite uma inventividade revolucionária. Além do mais, tripés não interagem.
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O modelo de 1990 não era holisticamente intuitivo e não ajudava os negócios quanto à antevisão necessária diante da complexidade, da abrangência, do volume e do dinamismo ditados pelo ritmo tecnológico da economia digital. Isso comprometia as decisões. Diante das novas demandas, algumas entidades, entre as quais academias, institutos e fóruns permanentes como o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) passaram a buscar uma ampliação do pensamento gestor, de modo a se desbravar novas concepções de business.
As empresas descobriram-se malhas de uma grande rede local e transnacional. Assim, foi trazido à luz de 2004 um modelo da Europa do Norte, datado de 1950, conhecido como o Paradigma do Equilíbrio Civilizatório ou o Modelo das Seis Dimensões. A palavra Sustentabilidade não existia e seis dimensões interativas: Ambiental, Econômica, Política, Social, Cultural e Espiritual passariam a influenciar as corporações e a extrapolar as perspectivas para além do negócio, com ética e sensibilidade, ajudando às empresas quanto à melhor compreensão da relação entre as duas grandes Ecos: a Economia e a Ecologia. Redescobria-se um holístico paradigma da Sustentabilidade.