Cesar Vanucci *
“Gerenciar a maior floresta tropical do mundo é assunto brasileiro.” (General Augusto Heleno, Ministro do Gabinete de Segurança Institucional)
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Os incisivos e lúcidos pronunciamentos de dois ilustres chefes militares, generais Luiz Gonzaga Schroeder Lessa e Augusto Heleno, proferidos em momentos distintos, de apreciável conteúdo cívico e em rigorosa sintonia com o sentimento nacional, alusivos aos direitos soberanos do Brasil sobre a Amazônia, reproduzidos neste minifúndio de papel ocupado por reflexões em torno de temas da atualidade humana, reavivou no espírito deste desajeitado escriba uma manifestação, de anos atrás, de outro patrício eminente. Estou me referindo a José Alencar Gomes da Silva, saudoso vice-presidente da República, semeador infatigável de iniciativas sociais e econômicas voltadas para a construção da grandeza da pátria.
Em palestra, no Sindicato dos Jornalistas de Minas, ele enfatizou, certa feita, a magna importância da Amazônia para o futuro do País. Sublinhou que não existe tão somente uma Amazônia, mas duas Amazônias a serem defendidas da cobiça alheia.
A primeira delas de um verde esmeraldino ofuscante. A outra de um azul sempiterno. A verde corresponde a mais da metade de nosso território. A azul, avançando oceano adentro, estende-se por duzentas milhas marítimas além das costas litorâneas. Costas essas, fale-se de passagem, onde se alojam, pra embevecimento dos turistas, as mais belas paisagens praieiras do mundo. Tanto uma quanto outra se fizeram depositárias, em dádivas da Natureza, de riquezas fabulosas. Dá pra garantir, sem resvalar em exagero: riquezas incomparáveis.
A verde é a Amazônia da floresta infinita. A maior deste conturbado planeta. A Amazônia do rio infinito. O de maior extensão e maior volume d’água. Da biodiversidade que assombra. Das riquezas minerais inexauríveis. Azul é a Amazônia oceânica, de imensuráveis riquezas. Riquezas brotadas do “mar de medusas que ninguém semeia, criadas com mistério e com areia, perfeitas de beleza e de sentido, sobre um casto jardim adormecido”, dos líricos versos de Miguel Torga. Nesta porção de mar específica, as jazidas petrolíferas são colossais. Ajudaram a catapultar o Brasil ao rol das potências energéticas.
Como resistir, a esta altura, à tentação de encaixar, agora, uma anotação histórica puxada das ladeiras da memória? Décadas atrás, o Brasil não somente não explorava petróleo, na terra ou no mar, como também não “possuía” petróleo, nem na terra, nem no mar. Pelo menos era o que, confiados na suprema ingenuidade das ruas, ousavam alardear por aí, em tom irretorquível, certos dirigentes políticos de proa. Um pessoal que se aprestava, docilmente, a render vassalagem a poderosos grupos estrangeiros. Encastelado em postos relevantes, fazia uso, costumeiramente, dos aparelhos de repressão policial para conter e desestimular vozes contestatórias. Técnicos estrangeiros de currículo reluzente, vinculados a manjadíssimos cartéis, punham-se de plantão para fornecer, a esses “impolutos cidadãos”, tidos no conceito mundano “acima de qualquer suspeita”, solícita assessoria. Aviavam “pareceres definitivos”, divulgados junto a uma opinião pública desinformada, atestando a “certeza científica” da inexistência, no subsolo e nas águas litorâneas, do mais leve indício, de uma nesgazinha promissora que fosse, do chamado “ouro negro”. O nunca assaz reverenciado Monteiro Lobato apelidava esse “ouro negro” de “sangue da terra”, “alma da indústria”. “Tê-lo – assegurava o notável escritor – é ter o sésamo abridor de todas as portas. Não tê-lo é ser escravo.
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Por emitir conceitos que tais, contrariando figurões, o autor de “Urupês” foi convidado, sem número de vezes, a ir ver o sol nascer quadrado, como era de costume dizer-se em tempos de antanho. Ele próprio contava. Homem prevenido, deixava arrumada, toda noite, uma mala com pertences, incluindo pijama, chinelo, escova de dentes e outros utensílios pessoais de higiene. Punha-se no desagradável aguardo de eventual convocação para desfrutar, por algum tempo, da hospitalidade da casa de detenção.
Retornemos às Amazônias verde e azul. Ambas nossas, brasileiríssimas. Que nem o samba, o Carnaval, o futebol, as estátuas de Mestre Aleijadinho. Pertencem-nos e a mais ninguém. Lá fora, há quem, arrogante e paranoicamente, não pense assim. Livros didáticos estrangeiros mostram a Amazônia como protetorado internacional. O Capitão Marvel é chamado em traços de desenhistas de quadrinhos, a empregar seus formidandos poderes para combater “pilantras brasileiros” que só querem saber da Amazônia “pra devastar floresta e traficar drogas”… Tribunas e jornais divulgam notícias e pronunciamentos falaciosos reveladores da frenética cobiça assestada sobre a área.
A Amazônia azul também permanece sob mira. As sucessivas descobertas de petróleo submarino suscitam alvoroço mundo afora. As duzentas milhas marítimas do prolongamento territorial brasileiro são contundentemente questionadas. Nos Estados Unidos, quando o petróleo do pré-sal aflorou, houve quem aventasse a possibilidade de criação de frota naval para operar nas cercanias sul-americanas, com o “louvável propósito” de proteger a região de ameaças externas. Caso de dizer: me engana, que eu gosto.
Oportuna a indagação: como é que as coisas andam atualmente, nesta hora em que o Brasil extrai mais petróleo das plataformas do mar do que dos poços terrestres? Salta aos olhos, face às pontuações registradas, a necessidade de uma permanente política de defesa dos interesses nacionais, como declinado nos pronunciamentos citados.
- Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)