Quando decidiu vir para o Brasil, no final dos anos 60, e escolheu Minas Gerais como destino, a então Fiat SpA foi atacada por todos os lados. As indústrias instaladas no País diziam que não havia espaço no mercado, mobilizaram abertamente seus lobbies e sustentavam que em Minas não existiam condições adequadas de suprimento e muito menos mão de obra capacitada.
O que veio depois, com a fábrica de Betim se transformando na maior e mais eficiente do País e a marca alcançando liderança de mercado, é história. E que nos vem à lembrança agora, quando a empresa anuncia a instalação de uma nova fábrica de motores em Betim, com investimentos de R$ 500 milhões e com 40% da futura produção destinada ao mercado externo.
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Para Minas Gerais, nas condições em que o Estado se encontra, é um alento que chega em muito boa hora, considerados os efeitos multiplicadores desses investimentos e, antes, a prova de confiança a ser imitada. E tanto mais relevante quando se considera que a escolha da Fiat estava entre o Brasil e a China, com a decisão final, segundo a alta direção da empresa, tendo levado em conta, sobretudo, a qualidade, versatilidade e garra da mão de obra local. Não há como deixar de recordar os anos 70, quando se dizia que os mineiros não teriam como operar uma fábrica de automóveis ou acrescentar que hoje, e já faz tempo, existem mineiros em posições destacadas nas fábricas Fiat na Itália.
Estas boas notícias, que por sua relevância o próprio governador Zema se encarregou de tornar públicas, tem também um outro aspecto a ser destacado. Confirma-se, em termos práticos e objetivos, que o grupo italiano está voltando suas atenções – e recursos – para Minas Gerais, seu berço brasileiro, revertendo uma tendência que chegou a ser vista com muita preocupação, alimentando inclusive boatos de que Betim teria envelhecido e alcançado sua capacidade máxima, fazendo sentido dessa forma olhar para outras direções. Também pesou o entendimento da antiga direção no País, que enxergava a empresa como parte de uma operação global, focada na América Latina, sendo mais lógico nessa condição que seus negócios fossem conduzidos a partir de São Paulo, o que aconteceu e acontece.
É de se esperar que com a decisão agora anunciada, e sem deixar de ter em conta que os custos do novo empreendimento serão em parte bancados por incentivos fiscais, coincida, explícita e claramente, com o alargamento das relações da empresa com Minas Gerais, inclusive com o retorno de seu comando ao Estado. Absolutamente não nos convém que a fábrica de Betim seja somente uma plataforma de produção, com seu centro de decisões deslocado para São Paulo, por coincidência de onde veio a artilharia mais pesada contra o desembarque dos italianos em Minas.